Fotos: Sotero Greco/IEF
Mais de 200 animais já foram recebidos no Cetras Divinópolis desde o início da operação, em 22 de fevereiro
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) comemorou neste mês de março um mês do início da operação do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) de Divinópolis, na Região Centro-Oeste do Estado. Desde o início da operação, em 22 de fevereiro, a unidade já recebeu 216 animais, sendo mais de metade por entrega voluntária (124); 43 na forma de recolhimento e 49 por apreensão. A estrutura tem capacidade de atendimento de até 3 mil animais por ano e sua inauguração reforça o atendimento médico-veterinário e a reabilitação de animais, já realizado por cinco unidades em funcionamento no Estado.
Além do Cetras Divinópolis, Minas conta com três centros de triagem, um centro de reabilitação e um centro de triagem e reabilitação, o que consolida os avanços obtidos pelo IEF no atendimento dos animais silvestres em Minas Gerais.
Apesar do pouco tempo de funcionamento, o Cetras Divinópolis tem realizado um trabalho importante em favor da biodiversidade, já preparado para todas as etapas do atendimento. A unidade conta com vários recintos e viveiros para receber e abrigar toda sorte de animais silvestres, desde répteis, variadas espécies de aves e até mesmo mamíferos do topo de cadeia alimentar como as onças.
A equipe do Cetras Divinópolis é formada por três servidores do IEF, com formação em medicina veterinária, zootecnista, engenharia agrônoma, e quatro tratadores, entre eles, duas biólogas. “Almejamos desempenhar um trabalho de referência no Estado e expandir em nível nacional e internacional, refinando cada vez mais as práticas executadas com manejo e gestão de fauna silvestre em Minas Gerais”, afirmou o médico veterinário e coordenador do Cetras Divinópolis, Érico Furtado Álvares.
A diretora de Proteção à Fauna do IEF, Liliana Nappi Mateus, explica que, apesar do pouco tempo de inauguração, o Cetras de Divinópolis já vem cumprindo com excelência sua função e demostrou o quanto era necessário para a gestão da fauna no Estado. “A estrutura possui uma equipe altamente capacitada e capaz de oferecer os cuidados adequados aos animais silvestres, o que é fundamental para que eles possam regressar à natureza. A unidade tem recebido animais de várias regiões”, disse a diretora.
ESTRUTURA
Foto: Marcelo Guimarães
A área construída chega a 1,2 mil metros quadrados, com estrutura composta por bloco administrativo, vestiários, dois alojamentos
As obras do Cetras Divinópolis tiveram custo total de R$ 5 milhões, recurso que veio da empresa AB Nascentes das Gerais, concessionária responsável pela rodovia MG-050, em cumprimento a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) Alto São Francisco.
A unidade foi implantada em uma área de mais de 14 mil metros quadrados, cedida ao IEF pela Polícia Militar de Minas Gerais. A área construída chega a 1,2 mil metros quadrados, com estrutura composta por bloco administrativo, vestiários, dois alojamentos com capacidade para quatro pessoas e estrutura de suporte clínico ambulatorial (salas de cirurgia, internação, quarentena, atendimento e sala de filhotes).
A unidade conta ainda com cozinha para preparo de alimentação balanceada para os animais, dois viveiros para répteis, quatro viveiros para aves, três recintos para mamíferos e dois corredores de voo para reabilitação das aves, biotérios, sala de necropsia e laboratório para dar suporte completo aos trabalhos.
Possui também corredores de voo, que são estruturas para reabilitação de aves, principalmente aquelas que ficam muito tempo em cativeiro irregular e perdem sua capacidade plena para voar. Conta, ainda, com uma van com sistema de climatização, cedida pela Supram Alto Médio São Francisco, para transporte de animais para algumas áreas de soltura de mais fácil acesso.
De forma inédita e pioneira em Minas Gerais, o Cetras Divinópolis também incorpora à sua estrutura uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). O coordenador explica que é uma exclusividade da unidade. “Todo o efluente líquido gerado no local é tratado e, dessa forma, não despejamos nem um litro sequer de esgoto no meio ambiente”, comemora.
RECEBIMENTO DE ANIMAIS
A bióloga e tratadora do Cetras Divinópolis, Jéssica Amaral, explica como a população pode proceder acerca da entrega voluntária e recolhimento de animais silvestres, nos casos de se encontrar um animal silvestre com ferimentos, informando que o contato pode ser feito com a Polícia Militar de Meio Ambiente ou com o Corpo de Bombeiros Militar, que vão recolher o animal, que será encaminhado ao Cetras.
Ainda segundo Jéssica, muitas pessoas têm animais silvestres em casa, seja de origem legal ou ilegal e, em algum momento de suas vidas, seja devido à mudança de rotina ou a outro fator, acabam não conseguindo dar atenção ao animal e optam por entregá-los. “Nós estimulamos a entrega voluntária, mesmo para animais de origem ilegal. Além do mais, se a pessoa for denunciada por possuir um animal de origem ilegal, a polícia fará a autuação e a apreensão do animal, podendo sofrer, ainda, penalidades como multa’, frisou.
Há ainda a situação em que as pessoas têm os animais há décadas, por exemplo, idosos que possuem papagaios. “Acontece de esses idosos virem a óbito e a família ficar com o papagaio sem saber o que fazer. Nesses casos, a família é instruída a entregar o animal ao Cetras, assim ele terá oportunidade de aprender a interagir em bando, voar, alimentar de forma adequada e ser solto”, explicou.
Para a bióloga é fundamental a conscientização da população sobre como proceder com a entrega do animal ao Cetras, da importância do local para a triagem e reabilitação desses animais e o conhecimento dos projetos que recebem os animais, seja realizando a soltura ou permanecendo na categoria de cativeiro.
APREENSÕES
De acordo com o gestor ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), André Russo, que atua na fiscalização dos ilícitos contra a fauna silvestre, todos os animais apreendidos em cativeiros irregulares ou por maus tratos são encaminhados aos Cetras existentes em Minas Gerais. “Geralmente as apreensões são feitas quando os animais são encontrados em espaços inadequados, insalubres, mutilados ou provenientes do tráfico de animais”, ressaltou.
Os animais dão entrada em unidades como o Cetras principalmente apreendidos pelos órgãos de segurança pública, como a Polícia Militar do Meio Ambiente, em sua maioria, vítimas do tráfico. Mas eles também podem ser recolhidos pelos órgãos públicos nos ambientes rurais e urbanos e ainda podem ser entregues de maneira voluntária pela população.
Para o comandante do 2º e 3º Pelotões da 7ª Cia PM de Meio Ambiente e 1º Tenente da PM, Flávio Andreote dos Santos, a fiscalização ambiental relacionada ao cativeiro irregular e o recolhimento de animais silvestres apresentam uma grande demanda logística e operacional, no que se refere à captura, transporte, acautelamento e destinação ambientalmente adequada. Isso ocorre principalmente nos municípios onde não há infraestrutura estatal para o recebimento de animais decorrentes de fiscalizações eletivas e solicitações da comunidade.
“O manejo adequado da fauna silvestre é fator preponderante para a manutenção da saúde do indivíduo. Contudo, tratando-se de espécies em situação de vulnerabilidade ou ameaçadas de extinção, a proteção deve ser maximizada, com o intuito de ampliar as possibilidades de procriação, variabilidade genética e perpetuidade da espécie”, afirma o comandante Flavio Andreote.
Ainda segundo ele, a implantação de um Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres promove uma melhoria substancial no acautelamento de animais, em detrimento das destinações paliativas, momentaneamente necessárias, a depositários, sejam criadores autorizados, clínicas veterinárias ou centros universitários. Verifica-se que a gestão estadual promove o tratamento e o manejo adequados dos indivíduos. Contudo, vai mais além, ao possibilitar a gestão integrada a nível regional e com os demais entes federativos, com escopo na proteção populacional da espécie”, frisou o comandante Flavio Andreote.
PARCERIA IEF/PMMG
Andreote observou, também, que a qualificação técnica dos competentes profissionais atuantes junto ao Cetras, viabiliza atuações qualitativas, “in loco”, ao agregar o conhecimento técnico, o manejo e equipamentos adequados, principalmente na captura e transporte de grandes mamíferos. “Nesse contexto, destacamos a profícua parceria entre a Semad, o IEF e a PMMG, principalmente no que tange à capacitação e cooperação técnica e, os recursos logísticos empregados na proteção da fauna silvestre brasileira, agregando o capital intelectual e os recursos adequados destas instituições de referência nacional”, reforçou.
PROJETOS
O Cetras vem ainda atuando para melhorar e expandir suas estruturas e instalações, reforçando projetos paralelos que visam otimizar o aproveitamento da estrutura. A exemplo disso, o coordenador do Cetras cita a instalação de sistema de compostagem para tratamento dos resíduos sólidos orgânicos do local. “O produto dessa compostagem será direcionado para os viveiros de muda do IEF, para colaborar assim com o Fomento do plantio de mudas e recuperação de áreas degradadas na regional Centro-Oeste”, explicou.
Também foi executado dentro da área do Cetras o plantio de quase 500 mudas de árvores nativas, frutíferas e de paisagismo, de cerca de 40 espécies diferentes, para aclimatação do local. De acordo com Érico, além do objetivo paisagístico, o plantio de mudas frutíferas poderá atender a demanda de alimentação dos animais abrigados temporariamente. “Lembrando que além de fornecer alimentação fresca e sem ônus para o estado, os animais consumirão alimentos sem defensivos agrícolas e agrotóxicos, o que garante a uma vida saudável ao animal após a reabilitação e soltura”, disse.
O Cetras Divinópolis trabalha em estreita sintonia com a regional de Biodiversidade do Centro-Oeste mineiro e desta forma, junto aos produtores rurais da região e entusiastas ambientais, na abertura e cadastro de novas áreas de soltura de animais silvestres. Para o coordenador do Cetras, essas áreas são de extrema importância para a soltura dos animais que passam por processo de reabilitação. “Isso garante que esses animais serão soltos em área de ocorrência da espécie e que possuem suporte para seu recebimento, como arborização, vegetação e alimentação nativa disponível”, disse.
De acordo com a bióloga, Jéssica Amaral, que atua simultaneamente em projetos paralelos, está em fase final de processo a aprovação de uma área na região para se tornar mantenedouro de fauna silvestre, categoria de uso e manejo de fauna, espaço que permite a destinação dos animais do Cetras que não possuem outro destino.
Quando chegam ao Cetras aves que são realmente incapazes de voar, por motivos físicos, elas não podem ser soltas, visto que não conseguiriam sobreviver na natureza, portanto, essas aves precisam ir para categorias de uso e manejo como zoológicos, criatórios ou mantenedouros de fauna silvestre, que é o caso deste projeto, no qual estou envolvida. Assim, esse mantenedouro em avaliação será um grande aliado do Cetras, recebendo parte dos animais que não possuem destinação”, explicou.
Além do mantenedouro, que está em fase final de aprovação, também existe uma Área de Soltura de Animais Silvestres (ASAS) em avaliação no município de Divinópolis. “Essa área também permitirá dar vazão aos animais do Cetras, visto que algumas espécies poderão ser soltas no local. Além disso, o ASAS contará também com a parte de reabilitação, com a disponibilização de diversos viveiros para isso. Dessa forma, o local será um importante suporte aos Cetras para ajudar na reabilitação de diversos animais que serão soltos”, disse.
Para o agrônomo e coordenador regional do Núcleo de Biodiversidade do Centro-Oeste, Sotero Greco, o desafio pessoal e profissional em trabalhar no IEF com fauna silvestre e educação ambiental agora é uma realidade. “Além de trabalho com recebimento, triagem e reabilitação de animais silvestres, a meta vai além e a intenção é que o Cetras seja também um centro de excelência em educação ambiental, capacitação e treinamento de alunos, professores e técnicos do IEF, servidores das prefeituras, Polícia Militar, Corpo de bombeiros, consultores e voluntários. Buscamos um Cetras o mais sustentável possível”, disse.
Wilma Gomes
Ascom/Sisema